terça-feira, 13 de junho de 2017

Resenha: O Nome do Vento - de Patrick Rothfuss

"Mestre Elodin..."
"Por favor, aqui somos todos amigos. Fique à vontade para me chamar por meu primeiro nome: Mestre."




 O Nome do Vento é a primeira parte de uma trilogia intitulada A Crônica do Matador do Rei. E por se tratar de uma crônica (aquilo que é contado em ordem cronológica), todo esse primeiro livro se parece, antes de tudo, com apenas um prólogo. Seiscentas páginas que se tratam não de um meio e tampouco de um fim, mas unicamente de um início. Não que isso seja objetivamente um defeito, pois o protagonista, sua história e o ambiente que a cerca são tão envolventes que só podemos esperar que esse prólogo seja um prólogo necessário e digno do clímax que ainda está por vir.

 Já no primeiro parágrafo, nota-se que é uma história contada por uma narração exímia; envolvente, específica, elegante. O enredo é inovador e sua moral é linda, pois nos mostra como são importantes os nomes, e mais que isso, a imensa diferença entre saber um nome e conhecer um nome, de modo geral, entre saber e conhecer, diferença que pode tornar um mero humano uma lenda. 

 Este é Kvothe, um herói, um assassino, uma lenda, um mito. E essas são poucas as suas facetas que se espalharam como pedaços de histórias ao vento. 

 Kvothe é membro dos famosos Edena Ruh, uma trupe artística que vive viajando o mundo em carroças e se apresentando em diversas cidades, seu composto parece ser muito maior que um só grupo, e, portanto, seu nome faz-se famoso em toda parte. Kvothe, no entanto, é nos apresentado como muito mais que um simples artista mirim; um gênio. Um garoto cujo conhecimento ultrapassa o de muitos com o dobro de sua idade, qual tem aprendizado fácil e simples, como a brisa a passar entre frestas. 

 Devido a sua vida nômade, os Edena Ruh conhecem gente nova a todo momento, e Kvothe, um dia, encontra por acaso um arcanista (pode-se entender como um feiticeiro ou mago), o vê chamar o nome do vento, e esse reagir ao chamado. Com interesse demasiado, Kvothe convida o velho arcanista para viajar com seu grupo, e começa a receber aulas do homem, mostrando-se cada vez mais promissor. Num piscar de olhos, irrompe a expectativa do mestre e do próprio garoto, que o caminho qual mais lhe diz vocação é o da universidade de magia, o Arcanum, onde o seu professor se formou.

 Contudo, tão rápido quanto aprende com o arcanista, dá-se a separação dele e de Kvothe, ocorrida não mais que por outro acaso. Seguindo viagem com sua família, desolado e cabisbaixo pela ausência de seu mestre, o garoto se depara, em pouco tempo, com uma situação severamente pior: toda a sua família e companheiros de jornada cruelmente massacrados por um grupo conhecido como O Chandriano, seus integrantes chamados, dentre muitas coisas, de demônios. Apesar da fama, quase ninguém sabe o que eles são, apenas aqueles que caíram em sua ira. E poucos sabem o que eles buscam, detêm vaga noção somente aqueles cujo possuem algo de que estão atrás, e, no mais, uma quantidade quase unânime das pessoas acredita que O Chandriano não passa de lenda, assim como Kvothe acreditava, até o dia em que o presenciou com os próprios olhos.


 Sem ninguém no mundo a quem recorrer, Kvothe inicia sua árdua jornada para ingressar no Arcanum e se especializar na magia que aprendera, e também para descobrir, no tão aclamado arquivo de livros da universidade, o que é O Chandriano. E eis que as lendas começam a ganhar forma, uma a uma.

 Em pontos positivos, o livro é uma obra explícita de um trabalho minucioso. 


"Como? Nenhuma defesa? Qualquer aluno meu deve ser capaz de defender suas ideias contra um ataque. Não importa como você leve sua vida, sua inteligência o defenderá melhor do que uma espada. Trate de mantê-la afiada!"


 A inteligência do protagonista impregna-se até em seu carisma. As respostas irônicas e ácidas são maravilhosas e admiráveis. Não só as do protagonista, como de outros personagens reconhecíveis.

 O Nome do Vento flui em uma história envolvente que passa veracidade e empolgação. Em trama original e inovadora. Na maior parte, os mínimos detalhes, sentimentos físicos e emocionais transmitidos em metáforas, são descritos de forma digna e gloriosa, que dá sentido adequado às palavras e exprime as sensações com maestria.

 Em pontos negativos, a narração em primeira pessoa de Kvothe (a que mais predomina) e terceira pessoa alheia, pouco se diferem.  Durante a transição da primeira para a segunda metade, sente-se que a história (contada por Kvothe) dá muitos detalhes sobre o cenário e sobre cenas não tão importantes, tornando cansativa a leitura e, incoerente que o personagem se lembre de tantos acontecimentos de forma tão impecável, por mais marcante que os acontecimentos tenham sido e por mais inteligente que ele seja. Algumas comparações, por outro lado, têm metáforas e descrições desnecessárias. Sente-se falta de determinados momentos narrados com objetividade. 

 Em suma, tem algo de espetacular nessa obra, embora as partes que mais criam expectativas são profundamente resguardadas, voltando a sensação de que esse livro é apenas o prólogo, e que os verdadeiros conflitos ainda estão por vir.

No mais,

 O Nome do Vento, digno do título até a última palavra, é um lembrete postado de diversas formas, em diversas páginas, de como a tragédia pode fortalecer o homem e como o conhecimento é o melhor exemplo de poder.

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