terça-feira, 4 de setembro de 2018

Resenha: Dama da Meia-Noite - de Cassandra Clare

 "Ironia é o resultado inesperado de uma situação esperada." 



 Dama da Meia-Noite tem tantos problemas, fica até complicado saber por onde começar.

 Para quem conhece o básico das técnicas literárias, vê-se que a autora claramente não sabe estruturar o ponto de vista nas cenas. O leitor nunca é imerso daquela forma natural aos olhos do personagem, ao contrário, sempre o narrador precisa informar de modo cru, no final dos clipes, que determinado pensamento pertence a tal personagem, na maioria da vezes à protagonista.

 A narração é desagradável. De modo geral, a escrita parece que não passou do esboço, sem lapidação nenhuma. Gasta-se textos e textos para descrever detalhadamente como os personagens estão posicionados um ao lado do outro, ou como preferem comer as suas panquecas. Conta-se muito, mas não se mostra nada. Erros ortográficos também são encontrados.

 Quanto aos personagens; outro problema. Temos um garoto de oito anos qual age e é tratado como se tivesse três. Temos um jovem descrito como um brilhante fã de Sherlock Holmes, mas não enxerga um palmo à sua frente. Temos um heroico rapaz que pede desculpas por atitudes que não precisam ser desculpadas e por aí vai. Ainda assim, são todos perfeitos e magníficos em cada atitude que tomam, mesmo quando estão sendo imperfeitos. Auto-intitulam suas ações altruístas como egoístas, só para conquistarem o afeto daquele leitor ingênuo. A autora gasta um único parágrafo para passar a mensagem de que a aparência interior é mais importante, mas todo o resto do livro está repleto de personagens belos, fortes e exuberantes. Não basta ter olhos azuis ou verdes, têm que ser, pasmem, "olhos azuis-esverdeados com dourado". Não basta possuir muitas qualidades, tem que ser apelidado de "Diego Perfeito" e ficar sendo chamado ridiculamente assim por todos os personagens, e, pior, pelo próprio narrador, a todo momento, se insiste tanto nessa ideia que chega a ser cômico. Não basta chamar os personagens pelo nome, narrador e personagens têm de reduzir TODOS eles a apelidos, nem que o nome possua duas sílabas: Emma vira Em, Octavius vira Tavvy e Tavvy ainda consegue virar Tavs, o que é profundamente irritante. Mas não para por aí. Veja este exemplo de como a protagonista é tão incrível:

"Emma estava ofegando ao se afastar da parede, mas era de empolgação."

 A personagem é tão magnífica, que ofegar de cansaço é algo impensável. Só se for de empolgação.

 Veja também o seu brilhante raciocínio:

"Houve um intervalo de quatro anos entre a morte dos meus pais e essa série. Quem quer que tenha sido, parou e recomeçou."

 Brilhante, não?! Isso é que é personagem inteligente. E nem foi o rapaz que admira Sherlock.

 Aqui está outra ferramenta fantástica que a autora usa para afirmar que sua personagem se sente cativada:

"Drusilla olhou para ele com corações de desenho animado nos olhos."

 São tantos pontos negativos, do início ao fim, que rapidamente a leitura torna-se insuportável. É difícil entender por que uma obra desse nível é tão aclamada. Vai ver, pode ser porque, (e é duro conceber, mas lá vai:) os padrões do leitor moderno andam tristemente abaixo da média.

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