terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Resenha: Trilogia Fúria Vermelha - de Pierce Brown

Fúria Vermelha - O 1º Livro

"Eu poderia ter vivido em paz. Mas meus inimigos me trouxeram a guerra."




 Fúria Vermelha é a ambiciosa distopia que deu certo. Pierce Brown, seu autor, fez um trabalho surpreendente ao lançar uma trilogia de tamanha qualidade com tão pouco intervalo entre as obras. Agora, seus livros arrebatam fãs no mundo inteiro, e Fúria Vermelha tem uma adaptação garantida para os cinemas, com o mesmo diretor de Guerra Mundial Z.

 Darrow, o protagonista, era um garoto cujo, vivendo tantas mentiras, foi forçado a ser homem precocemente. E ele teria vivido feliz, junto de sua família miserável, junto de sua esposa inconformada com o governo que os regia em Marte. Porém, o sistema o esmagou. O sistema lhe tirou. O sistema o chicoteou. O sistema cuspiu na sua cara, e Darrow aceitou a guerra.

 Da primeira até a última página, Fúria Vermelha captura o leitor e não o solta até que a leitura seja concluída. Esse êxito que contorna a história, é o resultado de uma combinação de elementos demasiadamente bem construídos: a narração sob primeira pessoa em tempo presente, a dinamicidade imparável que faz com que na trama esteja acontecendo algo o tempo todo, o domínio que o autor demonstra sobre os ambientes por ele criados e também sobre os seus personagens; Pierce é capaz de caracterizar suas individualidades usando apenas alguns diálogos, repletos de respostas ácidas e conflito.

"Você matou Priam. É por isso que eles não vão te deixar ser Primus. Estou acertando no alvo?"
"Você está acertando no alvo. Eu matei Priam como mataria um cachorro bonitinho. Rápido. Fácil. — Ele cospe o osso no chão. — E você matou Julian. Estou acertando no alvo?"



Filho Dourado - O 2º Livro

 Como é comum nas trilogias, o segundo livro tende a ser mais interessante; quando o protagonista já aceitou sua jornada, e os gatilhos irrompem um atrás do outro, a fim de abrir espaço para o desfecho. Aqui, Darrow é um dourado entalhado, infiltrado na nata da sociedade, espionando direto do covil da serpente, instigando o caos e a desordem entre os tiranos. 

 A ameaça dos Bellona sobre Darrow atinge seu ápice, entretanto, ele é um protegido da casa Augustus e não pode ser tocado enquanto essa posição estiver vigente. Mas para a sua surpresa, enquanto a discórdia semeia entre as duas famílias e entre o ArquiGovernador e a Soberana, Darrow se vê encurralado quando a proteção que o assegura começa a desfragmentar. Como alternativa, o mergulhador-do-inferno irá se aproveitar da tensão que ronda entre os grandes poderes da sociedade, para terminar de instaurar a guerra.

 Esse é o livro mais intenso da trilogia. Em Filho Dourado, é mostrada a falta de vaidade na morte por guerra, o jeito assombroso que ela chega sem aviso, sem ressalva, sequer sem lamento. Seca, insensível e tão banal quanto uma folha é assolada pelo vento.

"Nós não temos reis."
"Porque ninguém jamais ousou elaborar uma coroa pra si mesmo — digo. — Permita que esse seja o primeiro passo. Cuspa no olho da Soberana. Faça de mim a espada da sua família."

 É mostrado os patamares inacreditáveis que atingiu a escravidão. O homem que encara a liberdade como vergonha e desonra. 

"Digam a todos que possam escutar, que o Ceifeiro navega pra Marte. E ele conclama uma Chuva de Ferro."

 É o momento em que os inimigos caem, os aliados caem, e o sangue a ser derramado se torna uma mera ferramenta:

"E quem você conhece que pode me matar?"

"Por que não? Você sempre imaginou o que se passava por baixo da minha superfície. Conheça agora a corrente que percorre as profundezas."

"Se alguém ultrapassar a marca de dois metros de distância em relação a Darrow, vou matar todos nesta sala. [...] Dois vírgula três metros. Perto."

"Meu pai me ensinou que é sinal de fraqueza perguntar aos outros o que eles acham de você. Mas preciso fazer isso. Você acha que sou um monstro frio?"

"Essa couraçaEstelar me trouxe do espaço para a terra. Uma balsa salva-vida, um castelo pessoal no meio da guerra. Agora ela é meu caixão."


"Uma Chuva de Ferro foi chamada — proclama ele."
"E o chamado foi atendido — respondo."



Estrela da Manhã - O 3º Livro

"Ele quer pena. Minha pena se perdeu na escuridão."

 A guerra trouxe as suas consequências. Traições insurgiram, inocentes foram mortos, e a sociedade continua sua batalha contra os rebeldes, usando seu povo como refém e ao mesmo tempo como massa de manobra. O Ceifeiro já não existe mais, não como antes, e os Filhos de Ares chegaram aos seus últimos esforços.

 Em Estrela da Manhã, Pierce entendeu que o foco não deveria estar mais em Darrow, mas naqueles ao seu redor, de modo que ele trabalha a história dando menos destaque ao protagonista. Por sua vez, o ritmo da trama já não é mais acelerado como antes, principalmente no início, devido à grande quantidade de peças a serem movidas, como a inclusão dos baixaCores na guerra. No entanto, Pierce compensa bem esse declínio, com os incríveis detalhes das batalhas espaciais, explorando mais ambientes no sistema solar, como Io, uma das luas de Júpiter, descrita com louvor durante o encontro com Romulus au Raa, com as reviravoltas surpreendentes e estratégias empregadas de ambos os lados da guerra, e com a ascensão de Chacal como vilão.

 No fim, Pierce fechou muito bem sua trilogia. Todo o seu enredo foi bem fundamentado, mantendo os três livros numa qualidade estável.





Curiosidades

Cavaleiros Olímpicos

Em Filho Dourado, seis dos doze cavaleiros olímpicos foram mencionados:

Cavaleiro da Manhã – Venetia au Rein, Sucessor: Cassius au Bellona
Cavaleira Multiforme – Aja au Grimmus
Cavaleiro da Tempestade – Oriundo das Ilhas japonesas da Terra
Cavaleiro Raivoso – Lorn au Arcos, Sucessor: Fitchner au Barca
Cavaleiro do Vento – Morto por Ragnar na Chuva de Ferro
Cavaleiro Fornalha – Morto por Nero au Augustus

No Estrela da Manhã, todo os seis remanescentes são citados, porém sem nenhum ou com pouco destaque:

Cavaleiro da Morte – Morto por Ragnar
Cavaleiro da Nuvem – Mencionado por Roque durante a batalha de frotas em Júpiter
Cavaleiro da Verdade – Presente no refúgio da Soberana em Luna
Cavaleiro da Alegria – Presente no refúgio da Soberana em Luna
Cavaleiro do Medo – Mencionado pelo Cavaleiro da Alegria, presente na batalha de frotas em Luna
Cavaleiro do Amor – Mencionado pelo Cavaleiro da Alegria, presente na batalha de frotas em Luna

Nomes

Os nomes do meio dos personagens são designados de acordo com sua casta, baseados em elementos químicos da tabela periódica.

Ouro - Au / Ex: Roque au Fabi
Prata - Ag/ Ex: Regulus ag Sun
Azul - Xe = Xenônio/ Ex: Orion xe Aquarii
Cinza - Ti = Titânio/ Ex: Holiday ti Nakamura

Infelizmente, nem todos os elementos que representam as castas foram citados nos livros.

Referências

Uma das principais inspirações para Pierce começar Fúria Vermelha, foi a peça grega Antígona, de Sófocles. Isso mesmo. A Raposa de Kavax não tem esse nome por acaso. 

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