quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Resenha: Deuses Americanos - de Neil Gaiman

"Os deuses morrem quando são esquecidos. As pessoas também."


 

 Deuses Americanos é um romance de Neil Gaiman. Recentemente ganhou uma adaptação em série pelo canal Starz. 

 Seu autor descreve a obra como uma história sobre a essência da América, mas talvez seja um livro que trata mais a respeito de superstição. 

 No início da trama, somos apresentados a Shadow, o protagonista que, prestes a deixar a prisão, recebe a trágica notícia da morte de sua esposa, notícia a qual reage com estranha apatia, assim como com grande parte das experiências por que passa no decorrer do livro. Por conta de sua perda, Shadow é liberado da prisão com antecedência, e ao caminho do funeral de sua esposa, Laura, conhece um intrigante senhor que se apresenta a ele como Wednesday. Wednesday parece saber tudo sobre a vida de Shadow, e durante o primeiro diálogo com ele, oferece, insistentemente, um emprego que Shadow acaba aceitando.

 Não é preciso muito tempo para Shadow descobrir que a vida de Wednesday é cercada de mistérios e aspectos que parecem fugir da realidade. Começam a viajar de lado a outro, fazendo coisas que contrariam a sensatez e também a legalidade, porém, Wednesday manda e Shadow faz, e ainda que, vez ou outra, sua indiferença seja superada pela dúvida, Shadow não é pago para fazer perguntas.

 Mas o intuito de Wednesday é claro; uma tempestade se aproxima e é preciso reunir a velha guarda para enfrentá-la. A América é um bom lugar para os homens, contudo, não é um lugar para os deuses. Não é mais como nos tempos da antiguidade, longe dali, onde os homens sacrificavam outros homens à Odin, onde as pessoas sabiam o real significado da páscoa, e idolatravam, e adoravam, e alimentavam seus senhores com orações, sacrifícios, tributos e fé. Não. Hoje, os velhos deuses passam fome, desfalecem aos poucos devido à falta de adoração e reconhecimento das pessoas, que é o que lhes dão vida. Agora, os novos deuses são a internet, o mc donald's, a televisão, o carro e o telefone; a nova guarda é a essência da modernidade, e ela quer garantir sua permanência, destruindo os antigos e impedindo o surgimento de novos.

 Durante a caminhada para reunir os velhos deuses, Shadow passa a conhecer um outro mundo, um mundo que se estende de Odin até Anansi e de Ganesha até Anúbis, um mundo que vai revelá-lo, quem, de fato, ele é. 


 Deuses Americanos não é um livro curto, pois é trabalhado nos pormenores da estadia de seu protagonista em determinados ambientes, e em outros detalhes que são comuns em obras mais adultas. Isso não quer dizer que a história é arrastada, pois as personagens e as tramas são exóticas demais para tanto, mas que as revelações e os choques demoram a acontecer, sendo alcançados mais para o final.

"É mais difícil matar uma ideia do que uma pessoa, mas, no fim das contas, ideias também morrem."

 O ponto forte da obra, está em Gaiman humanizar os deuses de forma magistral, e em sua retratação a como eles nascem e vivem; um digno quebrador de paradigmas. Em contrapartida, muitas figuras mitológicas foram deixadas de lado, tal como Buda, qual não é um deus, de fato, mas caberia perfeitamente na essência da trama.

 Por fim, eis uma reflexão explícita a se tirar do livro: Deuses, afinal, seriam meras ideias?

"O jogo era roubado, mas era o único jogo rolando na cidade."

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